Liberdade

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quarta-feira, 27 de maio de 2015

E se tudo tivesse sido diferente?

               


Texto escrito em 15/05/2015, momento registrado na noite de 23/05/2015
e sentimento existente desde 1988.
            
         As vezes olho o futuro e ele me parece um labirinto imerso em nevoa. Prefiro o passado, lá é como um lugar acolhedor onde costumo ir para tomar um bom café, revisitar pessoas queridas e saborear piadas que já sei o final de cor, mas que sempre me fazem sorrir de um jeito diferente da forma que descrevi meu passado parece um episodio de Friends. A questão é que tem momentos que são tão bons que eu aperto repeat feito uma música que me vicia por semanas.
       Às vezes me pergunto se eu não estaria tão cansada se eu tivesse sido psicóloga, professora, escritora, jornalista ou tudo aquilo que eu quis ser um dia quando pequena. Quando ainda não entendia que Administração me garantiria um emprego e que dinheiro seria mais importante que prazer de ouvir, de ensinar ou de escrever. Pelo menos é o que o meu pai sempre diz e que eu nunca vou concordar.
       Vai ver eu teria um futuro completamente diferente se eu tivesse ganho dos meus pais uma máquina de escrever que eu tanto queria e se eles tivessem me colocado no mesmo curso de datilografia que meu irmão fez, ao invés de ganhar outra boneca. Vai ver se eu tivesse possuído livros em casa além da coleção de enciclopédias de capas grossas que ficavam na parte de cima da estante e que eu alcançava com dificuldade eu não citasse livros que li na biblioteca da minha escola como se tivessem sido livros meus. Recentemente me recordei de Caminhando na Chuva do autor Charles Kiefer e fui procurar em casa até me dar conta de que ele nunca foi meu assim como Os Miseráveis de Victor Hugo nunca foi e eu sofri tanto por ter que devolver. Como abrir mão de ler sobre meu querido Jean Valjean? Vai ver se eu não pudesse ler os quadrinhos do Calvin e Haroldo apenas na biblioteca do SENAI (eles não deixavam levar para casa) talvez tivesse um humor mais aguçado ou uma consciência do todo mais ampliada com dezessete anos, mas quem pode ter consciência ampliada com essa idade? Se bem que tem o Edu tão jovem e gênio e tem o Geo com uma empatia bonita de se ver e que sem dúvidas já devia ser evoluído com essa idade.
           Mas e se tudo fosse diferente? Se eu tivesse lido mais? Talvez não soubesse e amasse desenhar como amo. Talvez não tivesse visto tantos filmes nem achasse o Tom Cruise o homem mais cavalheiro do cinema. Talvez não tivesse o senso de humor que beira o nonsense. Talvez não tivesse me apaixonado por Legião Urbana aos doze nem pelo Pearl Jam aos vinte e quatro. Talvez não houvessem tantas lembranças lindas que ultrapassaram tempo e espaço junto da Raquel que me fez ser quem sou e que em agradecimento influenciei de forma doce. Talvez não tivesse sentado no fundo nas salas do Osires e não haveria de ter encontrado minhas companheiras de sonho e luz Adriana e Rosilange que como bônus trouxe uma amizade para mim sem igual como a do Alex. Talvez eu não tivesse frequentado a Igreja e como consequência não teria conhecido o Cícero e não existiriam conversas filosóficas na minha calçada na época que mais precisei delas. Talvez não tivesse dado a mínima quando o Vandemberg me falou que tinha uma banda e por ventura perderia de conhecer o Jerson, Wellington e depois o Wesley e com ele toda a poesia marginal iria pelo ralo. Talvez nunca aprendesse quanto é valioso apoiar a cena independente se não tivesse ido ao Bom Mix quando o TT me convidou a dois anos atrás e sem frequentar a cena não teria conhecido o Leo e acabaria por perder toda a evolução que ele me proporcionou. Talvez não tería sorrido e crescido tanto ao lado do Georgiano e do Alexandre nem chamado por amigo, o Diego. Talvez não tivesse admirado o Junior e sua Harmônico Vulgar, nem presenciado os silêncios mais doces do Denilton, nem feito análises do Jonas e do "seu" alcoolismo, que está mais para meu alcoolismo. Nem sequer tinha me divertido ao lado de tanta gente e conhecido bandas incríveis como a Radix, a Dr. Instinto e tantas outras das quais virei fã. E se não tivesse as mesmas oportunidades talvez não tivesse ido parar numa empresa onde passei três anos e que fez minha mente trabalhar quando ela só desejava parar e se eu não tivesse estado lá não teria conhecido a alegria da Lili, nem o charme da Mary, nem tinha afastado a Paula por preconceito, nem teria me encantado com ela depois de romper o preconceito por descobrir que nós somos a mesma pessoa... Muito menos saberia quão maravilhoso é compor um trio com ela e com o semi-nerd Iatã e hoje não estaria em uma outra empresa que encontrei outra Paula que se mostra cada vez mais um coração pulsante a bater junto com o meu igualzinho a Ligia que de fala fácil logo contagia a mim.
          Provavelmente se nada disso tivesse acontecido eu não teria tanta saudade da minha mãe porque estaria em outro lugar em vez de estar sentada ao lado dela durante a Sessão da Tarde nos anos 90. Talvez eu não tivesse tido uma segunda chance com meu pai e nunca olhasse para ele com o olhar de admiração que hoje possuo. Talvez até eu não fosse a madrinha da Yasmin e assim não teria o brilho luminoso do olhar de uma criança por perto uma vez que eu não tenho nenhuma intenção de ser mãe.
              Talvez sem tudo isso eu nem existisse.

Com amor,

Cristina Braga

"E se tudo tivesse sido diferente?
Restaria algo de quem você é hoje?"



P.S.: Queridos leitores a partir de hoje vou buscar postar os textos somente com ilustrações e pinturas para que fique claro que a bandeira que porto é a da arte. Todos os textos serão publicados aos domingos e eu aguardo cada um nessa minha pequena sala escura chamada de Feriados de Mim. Ah no domingo agora entrego a segunda parte do conto Coração Dilacerado. Espero que gostem e forte abraço.

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