Liberdade

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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

#Partiu

Foi numa segunda feira em que eu seguia rumo ao trabalho atrasada como de costume, tinha acabado de sair da rua lá de casa quando aconteceu... O homem alto, magro que caminhava apressado na minha frente desapareceu feito uma abdução sem claridade ou qualquer outro efeito especial digno de Hollywood, imagine um corpo inteiro se esvaindo sobrando apenas roupas que cairam lentamente ao movimento do vento. Achei estranho, mas estava tão tarde que não podia perder tempo tentando entender, era mais um obstaculo entre mim e a batida do meu ponto, por isso continuei.

Atravessando a avenida, cheguei a parada encontrando mais roupas pelo chão. Avistei ao longe o ônibus que faz rota pela empresa vindo, dei sinal e esperando que o automóvel parasse, aconteceu novamente... Logo o motorista desapareceu, deixando o coletivo sem controle para se chocar com um poste e mesmo que não tenha causado um acidente de grandes proporções, me convenceu a voltar para casa por mais tentador que fosse ir em frente. "Ah, que maravilha pegar um ônibus vago e até ir sentada no caminho até o trabalho. Bem, tinha que ser milagre mesmo”, penso.
-O que está havendo? Gritou uma moça ao longe desesperada segurando roupas infantis.
-Deve ser o arrebatamento...mas segunda-feira não é dia de subir ao céu, gente! Respondi automaticamente em tom bravo desprezando o olhar assustado dos demais presentes ali.

No retorno para casa, meu pai não está. No quintal seu vestígio se resume a  uma camisa listrada por cima de um short cinza onde o meu gato agora se aninha. Nossa, ainda bem que eu lhe disse um "eu te amo" antes de sair e fui presenteada por um sorriso acompanhado por seus olhos verdes brilhantes. Depois de um suspiro, a ficha cai, estou sozinha - sem ofensas, gato!- pego o celular para começar a discar números atrás de pessoas que assim como eu ainda poderiam estar por aqui, mas percebo que o sinal de internet está ótimo e presumo ser um momento propicio para tirar uma selfie.  A foto com a legenda "#PartiuApocalipse" só tem duas curtidas e eu nem entendi já que o filtro tinha ficado uma maravilha.

Chateada começo as ligações sem sucesso, só quem me atende é um amigo que me fala que está exausto e manda que eu ligue depois, que aquilo não era hora. Recusada, seguro em minhas mãos uma fatura de cartão de crédito que me faz sorrir por não ter que pagá-la mais, a minha frente a Tv mostra imagens de pessoas desaparecendo pelo mundo, mas nada de Friends, nada de um filme interessante. Vou para calçada.
No meio da rua Dona Eva está aos gritos inconformada porque a Marília "A Transexual" como ela era chamada por uns, foi arrebatada.
Nessa hora só me restou esbravejar:
- Que merda! Ninguém online no Whatsapp!

Cristina Braga



Oh Deus Tecnologia em que momento tu nos fizestes escravos?

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