Liberdade

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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Sangue Ruim



Nós temos sangue ruim
Uma necessidade de compartilhar algo todo o momento e quase nada serve.
Quem pode dizer que foi suficientemente amado?
Quem pode afirmar que foi um filho desejado?
Nós somos confusos porque tivemos ruínas como lar
Pessoas sem preparo, um mundo que não pode esperar
Criamos afeição por pessoas tão perdidas quanto nós
Fomos aqueles que se equilibraram no meio fio de ruas intermináveis nas madrugadas.
Amigos produzindo acordes em sábados incomuns.
Nós temos sangue ruim.
Somos classificados por cores, mas não somos lápis embora também nos desapontemos.
Nos alinham em escalas a qual não pertencemos
Nos encarceram em pontos periféricos onde não há investimento.
Quem pode olhar para sua historia sem desejar trocar algo?
Quem já não se sentiu no fundo do poço e escolheu não chorar?
Desenhamos nossas peles como quem decora uma casa.
Fazemos escolhas ruins sem notar que estamos em armadilhas prontas.
Sente quão gélida é a noite nas ruas vazias de empatia?
Toda a ingenuidade e pureza não sobrevivem a fotografias velhas
Vivemos do caos e não temos um cais para atracar,
Mas nós escolhemos não chorar
Porque vemos a realidade além dos noticiários
Vemos os troncos das arvores balançando...um calmante.
Vemos as folhas caindo fora do tom
Nós estamos famintos por esperança enquanto ela escorre por boeiros.
Não somos ratos, não espalhamos doenças.
Trazemos conosco uma verdade bruta.
O incomodo de seguir em frente num campo minado.
No lugar onde pessoas ávidas acompanham cotações monetárias
de que vale acompanhar a mudança de estações?
Nós damos atenção a profundidade, nós questionamos teus motivos para duelar.
Mas somos nós que temos sangue ruim,
Se for assim não venha purificar
Somos melhores que todos aqueles senhores fedendo a naftalina
Cercados por todo o poder sem ter a capacidade de sonhar.
Somos raros numa realidade ordinária
E enquanto houver o que compartilhar não se assuste
Se pedras atingirem janelas de grandes casarões...
É só uma forma agressiva de dizer:
Desejados ou não aqui estamos,
Viemos modificar a pauta, invadir os muros, as ruas e o faremos por onde for...

Quem tiver ouvidos que ouça:
Até mesmo nós...as cinzas viemos falar de amor.


Foto originária de um ensaio chamado Tempo de Guerra onde o fotógrafo buscou inspiração na definição de Caos do poema Metamorfoses de Ovídio





2 comentários:

  1. Adorei a abordagem.
    Cáustica, por vezes romântica, assim como você...

    ...sente quão gélida é a noite nas ruas vazias de empatia?...
    ...toda a ingenuidade e pureza não sobrevivem...
    Cris Braga - Feriadosdemim

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    Respostas
    1. Igor fico feliz que tenha gostado. Você é sempre bem vindo por aqui seja pela mente aberta, seja pela sua veia artística. Obrigada pela atenção dada aos meus devaneios literários =).

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