Liberdade

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sexta-feira, 27 de março de 2015

Eu, o gosto do vinho e a maldita ressaca



Lembranças do fim de uma era sombria, uma noite de 2014


         O despertador alarmou, abri um olho e ví sobre mim o teto parado enquanto o restante do quarto todo girava. Eu ouvi um barulho ensurdecedor igual a um baterista incansável direto nos meus tímpanos que me fez levar as mãos a cabeça. "Maldita ressaca!" esbravejei. Abri lentamente os dois olhos e me virei para a esquerda com o intuito de levantar, mas não consegui. De repente senti na boca o gosto azedo do vinho da noite anterior que antes era tao doce. Foi uma noite louca cheia de amigos e Rock por toda parte, marca dos melhores sábados da minha vida. Em nossa roda boêmia falamos de tudo que atravessava nossas mentes, assuntos como bandas, musicas, super heróis, politica e ainda teve espaço pra rir de nossas limitações e rir das misturas que o carinha de outra cidade que estava alto fazia. Ele falava tanto que eu nem imaginaria que ia fuder tudo quando começasse a tocar com sua banda. A gente tem esse lance de subestimar pessoas e toda vez vem a realidade nos dando um soco direto na cara e sabemos que preconceito é uma merda, mas acabamos fazendo e até mesmo nos festivais que tem uma vibração anarquista acontece. Quantos não devem me ver por estereotipo de loira ou burra porque não paro de falar quando estou bêbada e desses momentos épicos obviamente surgem as perolas. Mas imagine quem não conversa comigo sóbria, quem não sabe o que me fascina ou o que defendo a sério. Deve ter uma galera que me defina pelo bom humor e não veja nada mais alem disso e por mais que seja engraçado é um saco deixar que fiquem e até mesmo que eu fique só na superfície. Bem, mas isso é uma questão que tomei pra mim e vai me influenciar por toda a vida e não tem muito a ver com a noite de ontem...a não ser pela minha expressão olhando para aquele cara e sua banda encarnando o Rock´n Roll bem a minha frente. "Que banda é essa? Que foda!", pensei.

           Todos estavam lá, desde a antiga turma à novos amigos, até um querido inimigo meu e ele tinha o mesmo ar superior que sempre me confrontava. Sabe, você tem que escolher bem seus inimigos, pois confrontos poderão ser travados por toda sua vida e por via de duvidas devem ser pessoas interessantes ou vai ser entediante. Ontem não houve atrito a não ser trocas de olhares e algumas fugas. Eu estou numa fase estranha e vê lo foi como olhar pra mim no fundo do poço, me causou desconforto, apesar de que não havia muita alegria dessa vez. Mais cedo havia entrado em conflito com meu boyfriend por uma incerteza de nos vermos e por minhas incertezas de continuar seguindo em frente. Eu queria resolver minha vida, mas até ontem não sabia como. Voltei em torno de 1hs da manhã sozinha.

              Me levanto da cama, o baterista continua na minha mente batendo cada vez mais forte, olho ao redor e estou lá como fonte única de vida. Meu pai viajou e a casa parece um imenso sarcófago. Pego o celular e começo a conversar com uma amiga, vou contar sobre o que houve, um convite recusado e uma angustia. Ela é incrível, me faz sentir bem e eu me pego de sobressalto pensando que porra é essa que estou fazendo. Queria resolver tudo, mas o cheiro da noite passada me tira o foco. Vou ao banheiro e tomo um longo banho, penso na merda que fiz e nas palavras que disse ao cara que mais se importa comigo e me sinto mal porque eu tinha dito que não sairia e acabei saindo. Eu estava tão confusa e mesmo assim saí e meu peito estava apertado porque no fundo eu sentia que aquela vida não era minha. Saí do banheiro, chorei, iniciei uma guerra, derramei tudo que sentia e coloquei fim ao caos.

            Em alguns dias escreverei "Agonia" sobre sentir de mais e estar a frente de alguém que não tem coração. O único poema rimado que darei vida será para acabar com a era sombria desses dias... Enquanto isso não acontece continuo aqui eu, o gosto do vinho e a maldita ressaca.





E nessa vibe de ressaca, álcool e sinceridade fiquem com a melodia de Trapézio da Pitty 

sexta-feira, 20 de março de 2015

Extremos

Eu quero a nevoa da serra
Tu queres vista para o oceano
Eu pego a mão da esquerda
Tu só caminhas pela direita
Eu aprecio arte
Tu só assiste Tv
Eu nem sempre sou boa
Tu condenas o mal
Eu não me limito a uma crença
Tu só considera a verdade que te deram
Eu me expando
Tu desapareces
Eu despedaço
Tu permanece intacta
Eu alço voo
Tu cria raízes
Eu espalho o vermelho
Tu exiges que seja tudo preto no branco
Eu abro janelas
Tu compra espelhos
Eu te convido para uma dança
Tu diz que não sabes dançar
Eu aumento o volume da musica
Tu muda a estação de rádio
Eu falo de amor
Tu discursas pelo ódio
Eu reconheço a vida como fonte do imprevisível
Tu tens planos definidos
Eu nem sei quem sou
Tu já tens sobrenome de outro
Eu defino meu corpo como um ponto de anarquia
Tu o etiqueta com um dogma.
Eu estou só
Tu também, mas escolhe não pensar sobre isso
Eu poderia amá la, mas tu se mantem ausente do tipo de pessoa que fez de mim...

E nenhum de nós estamos por completo errados.
Sabemos amar, mas não entendemos as ramificações do amor
Sabemos sonhar, mas invadimos territórios alheios com sonhos egoístas.
E o que nós não sabemos é viver em paz com todas as vendas que colocaram sob nossos olhos. 
Essas vendas que são maiores que a distancia que nos aprisiona.



terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Sangue Ruim



Nós temos sangue ruim
Uma necessidade de compartilhar algo todo o momento e quase nada serve.
Quem pode dizer que foi suficientemente amado?
Quem pode afirmar que foi um filho desejado?
Nós somos confusos porque tivemos ruínas como lar
Pessoas sem preparo, um mundo que não pode esperar
Criamos afeição por pessoas tão perdidas quanto nós
Fomos aqueles que se equilibraram no meio fio de ruas intermináveis nas madrugadas.
Amigos produzindo acordes em sábados incomuns.
Nós temos sangue ruim.
Somos classificados por cores, mas não somos lápis embora também nos desapontemos.
Nos alinham em escalas a qual não pertencemos
Nos encarceram em pontos periféricos onde não há investimento.
Quem pode olhar para sua historia sem desejar trocar algo?
Quem já não se sentiu no fundo do poço e escolheu não chorar?
Desenhamos nossas peles como quem decora uma casa.
Fazemos escolhas ruins sem notar que estamos em armadilhas prontas.
Sente quão gélida é a noite nas ruas vazias de empatia?
Toda a ingenuidade e pureza não sobrevivem a fotografias velhas
Vivemos do caos e não temos um cais para atracar,
Mas nós escolhemos não chorar
Porque vemos a realidade além dos noticiários
Vemos os troncos das arvores balançando...um calmante.
Vemos as folhas caindo fora do tom
Nós estamos famintos por esperança enquanto ela escorre por boeiros.
Não somos ratos, não espalhamos doenças.
Trazemos conosco uma verdade bruta.
O incomodo de seguir em frente num campo minado.
No lugar onde pessoas ávidas acompanham cotações monetárias
de que vale acompanhar a mudança de estações?
Nós damos atenção a profundidade, nós questionamos teus motivos para duelar.
Mas somos nós que temos sangue ruim,
Se for assim não venha purificar
Somos melhores que todos aqueles senhores fedendo a naftalina
Cercados por todo o poder sem ter a capacidade de sonhar.
Somos raros numa realidade ordinária
E enquanto houver o que compartilhar não se assuste
Se pedras atingirem janelas de grandes casarões...
É só uma forma agressiva de dizer:
Desejados ou não aqui estamos,
Viemos modificar a pauta, invadir os muros, as ruas e o faremos por onde for...

Quem tiver ouvidos que ouça:
Até mesmo nós...as cinzas viemos falar de amor.


Foto originária de um ensaio chamado Tempo de Guerra onde o fotógrafo buscou inspiração na definição de Caos do poema Metamorfoses de Ovídio





sábado, 31 de janeiro de 2015

O espetáculo da bailarina que não sabe dançar

Existe um muito de mim que tem ânsia por voar.
Um punhado de consciência que nem mesmo a gravidade poderá segurar.
Existe quem te acordará as cinco da manhã
Porque é preciso viver até quando se está cansado disso
E nas horas vazias do dia existem aqueles que confundem a realidade....
Sou um desses
E como é lindo esbarrar com uma menina girando na esquina.
A personificação da musica e da liberdade.
Aí desperto com  o som da sua voz me contando sobre o artista
Esse individuo que percorre teu ser 
E que dedilha calmamente seu violão em mim.
Nós somos os que caminham por ruas sólidas
Enquanto por dentro evaporamos
Porque aquilo que nos deram era liquido demais para durar.
Eu sou quem teme se sentir vulnerável...
Sou a mim e um pouco dele.
O homem que se esconde nos mesmos lugares que eu, 
Mas  que tem uma verdade mais clara que a minha
E as horas passam, as pessoas passam...
E tudo que me atravessa me torna mais distante de mim
Essa pessoa que ainda mantem os pes no chão quando o que precisa são asas
Mesmo que se desbotem todas as cores,
Mesmo que me perca e dê passos em círculos por esses caminhos.
Lá estarão as estrelas assistindo atônitas
Quem gira, gira, é viva, viva...
minha vida que bem poderia ser chamada de:
"O espetáculo da bailarina que não sabe dançar."

Cristina Braga



No ultimo dia do mês o primeiro texto do ano. Sejam bem vindos!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O porquê

     
   À Yasmin.

        Um dia uma menina vai lhe perguntar o porquê. Aquela singela pergunta que implica entender como você veio a se tornar o que é. Não posso afirmar que será tua filha, na verdade as meninas tem uma curiosidade aguçada, uma necessidade de ter a porta aberta para desbravar mundos sem precisar de muita formalidade para isso, sequer precisam intimidade ou laços sanguíneos para sentirem vontade de procurar coelhos em cartolas mágicas. 
         Quando você se sentir desafiado irá olhar em volta e sentir a incrível necessidade de não mentir. Seu cérebro será invadido por um turbilhão de imagens e não será fácil explicar porque terá mais do que possa processar. Haverá movimentos, cheiros e sons que serão difíceis de imprimir para improváveis hospedes já que só você sentiu com aquela intensidade como cada um desses impulsionadores de sentidos te influenciou através dos anos. E mesmo sem saber como iniciar não pense em desanimar calando se, pois ela não vai adiar essa conversa, pois garotas são insistentes a mesma medida que transportam doçura.
         Você pensará em falar das estrelas, de como era fascinante olhar para elas e de como era preciso segurar a vontade de apontar para o céu com medo de castigos infantis. Talvez fale das canções que ouvia com os amigos quando a aula terminava mais cedo e você e eles não queriam voltar para casa. Vai citar nomes de pessoas que transformaram a vida uma grande aventura, pessoas que teve a honra de chamar de amigos, uns nem veja mais, outros são tua companhia ainda e sem que consiga controlar irá sentir saudade das bobagens que os faziam sorrir. Você tentará omitir sobre a fria sensação que sentiu dando passos voltando para casa as 19hs quando na verdade sabia que não havia mais para quem voltar. Instantaneamente lembrará das promessas quebradas e das vezes que seu coração foi partido e que você bem soube concertar mesmo jurando que não conseguiria. Quem sabe até fale da época que Deus era um sujeito que costumava conversar mesmo tendo dentro de si todas as duvidas que fez parar de puxar assunto com ele. Mas e se esquecer de algo? Umas cartas? Uns copos vazios? 
          Se tudo que despejar sobre si mesmo não for tão interessante quanto a odisseia de um rei em busca de seu reino? A Senhorita Curiosidade poderá não entender, não estava lá quando seus amigos eram teu ombro e tua lucidez e por mais que ela leia tudo que escreves não poderá respirar a essência que emanava daqueles dias, os dias em que tua juventude era tudo o que tinha. E no fim adentrar uma outra mente sempre é confuso em demasia. Ha o perigo do ouvinte se apegar as pessoas, aos heróis já mortos. E se ela se apaixona pela boêmia contida ali? O que fazer se já não existir mais a mesma rota de fuga ou se quem for apresentado a ela não existir mais em você?
            Um dia meu bem, haverá tantos motivos para você ser quem é que nem uma tarde inteira conseguirá suportar suas histórias e seus risos. Aquele riso carregado por todos os sons das vozes de quem já sorriu perto de ti. Um dia talvez você transfira um pouco do que aprendeu quando descobriu com o passar dos anos que importante é não desejar muito, que objetos não são valiosos porque são as pessoas que fazem lembranças que preenchem memorias que dão luz as nossas vidas. Ah e se tiver a atenção de alguém o faça entender que riquezas ou grandes sonhos não trazem felicidade e que as conversas são onde ocorrem as mais belas trocas da humanidade. 
             Então quando lhe fizerem uma pergunta sobre os motivos de ser quem é, faça um favor a sí mesmo dando tudo que pode, menos o silencio. O silencio em uma situação como essa seria uma negação a toda beleza contida em tua vida e independente do que houve, nós sabemos: foi belo.


“E essas memórias perdem o sentido
Quando eu penso em amor como uma coisa nova
Embora eu saiba que nunca vou perder o afeto
Por pessoas e coisas que vieram antes
Eu sei que, com frequência, eu vou parar e pensar nelas.”

In my life, The Beatles


A musica mais doce de retrospectiva de todos os tempos.
Fiquem com In my life e até 2015!





terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Agonia



Tem um pedaço de vidro em meu coração.
Que me machuca e enlouquece a cada batida.
Faz de todo meu corpo uma inteira ferida.

Tem um pedaço de vidro em meu coração.
Ele afunda quando é fundo meu respirar
É um golpe do qual não vou desviar.

Tem um pedaço de vidro em meu coração
Fere. Rompe. Faz sangrar
E mesmo que eu tente não posso arrancar.

Quisera eu dissolvê-lo em meu sangue.
Quisera eu ser somente razão.
Mas aqui sigo refém da minha própria inquisição.

Tem um pedaço de vidro em meu coração...
Nem sei porque te conto se você não sabe o que é ter um.


Cristina Braga

domingo, 7 de dezembro de 2014

Deuses

As palavras tem asas
Voam para longe quando não acompanham o compassar desse coração desgastado.
Elas se lançam ao silêncio com tamanha pressa que eu não consigo alcançar nenhuma.
Coloco um sorriso para decorar esse rosto.
Logo estamos frente a frente sem ter muito o que dizer um ao outro.
Um amigo me disse que o fundo do poço é um lugar incrível para estar.
Que as possibilidades emergem dos finais.
Eu sorri, mas devia ter feito o tempo parar naquele instante.
Os amigos são deuses.
Vejo uma mitologia completa feita deles.
Suas virtudes e suas falhas são edificantes.
Na vida real que dividimos
sempre ha alguém sendo salvo,
sempre há um coração em jogo,
mas lá estão eles cumprindo seu papel.
Nós devíamos fugir dessas amarras... elas doem e me envergonham
porque eu mesma as amarrei.
E mesmo estando um inteiro caos
o céu continua lindo,
e eu mal consigo respirar,
mas não há poeira ou qualquer artifício.
É só minha falta de habilidade em viver.
Sou dessas que dizem o que não pode ser dito.
Do tipo de gente que vai perder muitas vezes.
Vou esperar segurando um copo meio cheio
do vinho mais barato da cidade,
não preciso de garrafas caras
para escapar a sanidade.
Eu, diferente das palavras não tenho asas.
Mesmo que tivesse não sei se iria para muito longe.
Nessa tragédia grega eu busco romper meus limites.
enquanto alguns estão infectados
pelo vírus da normalidade.
Quem sabe possamos ser deuses um para o outro.

Cristina Braga